Continuamos a série de acompanhamento de alguns impactos da pandemia […]
Escrito por Nathalia Figueiredo
em 28/01/2021 |
Continuamos a série de acompanhamento de alguns impactos da pandemia sobre os sistemas alimentares.
Você pode conferir o primeiro post aqui e o segundo aqui.
Abaixo, nossa seleção de atualizações do mês de setembro.
O que comemos muda o mundo.
COVID-19 & Fome.
Durante a pandemia, houve a divulgação da Pesquisa dos Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, com dados de 2018, que constatou o que já havíamos alertado: a volta do Brasil ao Mapa da Fome.
Considerando os dados do SOFI 2020 que apontam tendência de crescimento no número de famintos e a pesquisa da UNICEF realizada pela IBOPE, que trouxemos no mês passado, espera-se que as rupturas sociais e econômicas agravadas pela pandemia elevem a insegurança alimentar no Brasil e aumentem em até 132 milhões de o número de pessoas subnutridas no mundo.
Durante a Assembleia Geral da ONU no dia 22 de setembro, o atual Presidente da República (Jair Bolsonaro), afirmou que mesmo durante a pandemia o Brasil produziu alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas, contribuindo “para que o mundo continuasse alimentado”, poucos dias após a divulgação da Pesquisa dos Orçamentos Familiares (POF) do IBGE atestar que o país voltou ao Mapa da Fome.
“Como o Brasil que alimenta 1 bilhão no mundo tem 10 milhões passando fome”, é o título do conteúdo audiovisual publicado pela BBC Brasil, onde Ricardo Senra convida especialistas para explicarem a contradição.
O economista e Ex-presidente do CONSEA Nacional, Renato Maluf, falou em entrevista ao site “O joio e o trigo” sobre as origens da crise alimentar que estamos vendo se agravar durante a pandemia.
A Oxfam Brasil levantou alguns dos impactos sociais da pandemia sobre o trabalho e renda, entre eles o aumento da insegurança alimentar.
Em reportagem no Brasil de Fato, Mariana Castro traz o drama da insegurança alimentar no Norte e Nordeste, que subiu durante a pandemia segundo o relatório da UNICEF em parceria com o IBOPE e mostra ainda a importância de fortalecer a agricultura familiar, já presente na região, para o combate todas as formas de má nutrição. A reportagem utiliza como referência o estudo realizado por Eugênio Peixoto, Secretário-Executivo do Fórum dos Gestores e Gestoras Responsáveis pelas Políticas de Apoio à Agricultura Familiar do Nordeste, que avalia os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares e os impactos da fome na região Nordeste do país.
É importante pensarmos também no pós-pandemia, confira a reportagem do El País sobre o futuro da segurança alimentar após o fim do auxílio emergencial no Brasil.
A bloomberg publicou uma extensa reportagem que aponta a tendência do aumento da fome entre agricultores e produtores de alimentos, principalmente trabalhadores que participam da produção de commodities. Apesar de plantarem alimentos, agricultores ao redor do mundo não têm renda suficiente para se alimentarem adequadamente.
Em conteúdo audiovisual, a agência de notícias também apontou o aumento da fome pela queda brusca da renda agravada pela pandemia, enquanto há alta produção de alimentos. O vídeo ainda relaciona as imagens aos dados da SOFI 20202. Mostrando alimentos amontoados para venda, vendedores baixando os preços pela metade e ainda assim a população não conseguindo arcar com os valores..
Em declaração conjunta, quatro agências da ONU (FIDA, FAO, OIT e OMS) anunciaram plano de trabalho contra o aumento da fome durante a pandemia em escala global.
COVID-19 & Alimentação escolar.
No Estado do Rio de Janeiro, o STF desobrigou o governo a fornecer alimentação escolar durante a pandemia alegando risco às finanças públicas do Estado. Foi publicada uma carta de contestação assinada por 130 entidades e houve audiência pública com Michael Fakhri (relator da ONU) com representantes de movimentos e instituições brasileiras que denunciaram as questões de violação ao direito à alimentação escolar na pandemia.
Com a aproximação das eleições, foi lançado em 25 de setembro um modelo de abaixo-assinado para as populações pressionarem sua prefeitura à cumprir o Programa Nacional de Alimentação Escolar e adquirir 30% dos alimentos da agricultura familiar.
COVID-19 e Padrões de consumo.
Segundo o estudo “Inflation with Covid Consumption Baskets” publicado por Alberto Cavallo, professor da escola de negócios da Universidade Harvard, o Brasil foi o país mais afetado pela “inflação do Covid”, entre os 18 países analisados. Uma das principais causas é a forte alta no preço dos alimentos da cesta básica como o arroz, que afeta principalmente os mais pobres.
Antes mesmo da pandemia e da alta dos preços, segundo o POF, em 2018 o arroz já era o item que mais pesava mais no orçamento das famílias com algum tipo de insegurança alimentar. Quanto menor a qualidade da alimentação, maior o consumo de arroz pela família, segundo o estudo.
A economista Gabriela Chaves aponta alguns fatores que contribuíram para a alta, entre eles a falta de estoques estratégicos de alimentos através do CONAB.
Esta reportagem do Estadão relaciona os resultados da POF e a volta do país ao Mapa da Fome, com os dados da pesquisa da UNICEF e a alta dos preços dos produtos da cesta básica.
Segundo estudo publicado pela organização Nielsen, a classe C voltou ser a maior consumidora dos supermercados, o auxílio emergencial pode ter contribuído para o resultado.
Foi publicado o estudo de Coorte do NutriNET (maior pesquisa de alimentação do país, pelo NupensUSP) que aponta maior consumo de alimentos in natura por brasileiros durante a pandemia, mas aumento do consumo de ultraprocessados entre os menos escolarizados e nas regiões Norte e Nordeste do país.
COVID-19 & Obesidade.
Segundo reportagem da bloomberg, mesmo em países desenvolvidos, alimentos in natura estão inacessíveis para boa parte da população e a obesidade tem sido mais uma face da crise alimentar da pandemia.
A Inglaterra, por exemplo, não atingirá o objetivo de reduzir pela metade a obesidade infantil até 2030.
No Brasil, a obesidade infantil atinge 30% das crianças e pode ser agravada pela pandemia devido ao sedentarismo e aumento do consumo de alimentos industrializados.
Em adultos, quatro em cada dez brasileiros ganharam peso durante a pandemia, segundo estudo da UFMG.
O que comemos muda o mundo.