Nós do Instituto Comida do Amanhã seguimos acompanhando os impactos […]
Escrito por Nathalia Figueiredo
em 24/02/2021 |
Nós do Instituto Comida do Amanhã seguimos acompanhando os impactos da pandemia de coronavírus nos sistemas alimentares. Abaixo, nossa seleção de atualizações do mês de Janeiro de 2021.
COVID-19 & Fome.
A alta no preço dos alimentos continuou em janeiro deste ano: alimentos e bebidas tiveram aumento de 1,02% em relação a 2020. A alta, aliada ao fim do auxílio emergencial, representou queda no consumo alimentar de muitas famílias, considerando que a maior parte do auxílio era utilizada para comprar comida e pagar contas básicas.
Um protesto organizado pela Coalizão Negra de Direitos pedindo a prorrogação do auxílio emergencial de R$600 até o fim da pandemia levou marmitas vazias à Avenida Paulista, em São Paulo, sob gritos de “Tem gente com fome!”.
O auxílio emergencial repassava R$1.200 reais para as mães chefes de família, o que garantiu a alimentação de muitas ao longo da pandemia. O fim do benefício representa um alto desfalque no orçamento – e consequentemente na alimentação – das famílias.
COVID-19 & Alimentação escolar.
No começo de fevereiro, a segunda parcela do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) de 2021 foi depositada na conta dos estados e municípios. Segundo o Conselho Federal de Nutrição, a alimentação escolar continuará sendo distribuída em localidades onde não houver retorno das aulas presenciais. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação estipulou o prazo para prestação de contas do PNAE para 19 de março. Estados e municípios deverão comprovar que executaram corretamente os recursos federais destinados à alimentação escolar.
Organizações da sociedade civil e movimentos sociais se uniram, através do Observatório da Alimentação Escolar, para monitorar o Programa Nacional de Alimentação Escolar no Brasil e mobilizar mais pessoas sobre a importância do Programa. Em sua primeira matéria investigativa, o Observatório da Alimentação Escolar trouxe a opinião de cinco estudantes sobre a alimentação escolar antes e durante a pandemia, contextualizando com a legislação do PNAE e a importância de cada ponto da legislação que regulamenta o Programa. Em São Paulo, as escolas da rede estadual de ensino reabriram para a distribuição de merendas, antes da reabertura para as aulas.
A UNICEF, junto ao Programa Mundial de Alimentos, publicou o relatório “Covid-19: perdendo mais que a sala de aula – O impacto do fechamento das escolas sobre a nutrição infantil”. O estudo aponta que 39 bilhões de merendas escolares deixaram de ser entregues em todo o mundo desde o início da pandemia.
A FIAN Brasil (Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas), lançou o projeto “Crescer e aprender com comida de verdade”, para promover a alimentação saudável nas escolas e combater a obesidade infantil.
Um estudo publicado por pesquisadores de três Universidades brasileiras – Universidade do Ceará (UECE), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), constatou que a alimentação escolar reduz o risco do desenvolvimento de hiperglicemia e hipertensão arterial, em comparação à alimentação dos estudantes em casa.
O Comitê da ONU para a Segurança Alimentar Mundial realizou um evento on-line, dentro da 47ª Sessão Plenária do Comitê, para discutir os aprendizados da alimentação escolar durante a pandemia, reunindo mais de 220 pessoas de diversos países.
O Instituto Fome Zero realizou a live “A volta às aulas e a alimentação escolar em tempos de Covid-19”, apresentando exemplos práticos da aplicação do PNAE na cidade de Belo Horizonte, pela Subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional, Darklane Rodrigues, além das perspectivas de Daniel Balaban (Diretor do Centro de Excelência do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil), Mariana Santarelli (membro do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), José Graziano da Silva e Ana Cláudia Santos (Diretores do Instituto Fome Zero).
COVID-19 e Padrões de consumo.
Com o aumento no preço dos alimentos e fim do auxílio emergencial, a intenção de consumo das famílias caiu em 0,6% entre janeiro e fevereiro.
O último relatório da FAO Américas sobre o impacto da pandemia nos sistemas alimentares, apontou que o meio urbano consome 70% da produção alimentar na América Latina, e que em locais mais vulneráveis, houve maior volume das chamadas “compras de desespero”. Como respostas municipais para avançar a transformação dos sistemas agroalimentares e recuperação econômica e social das cidades, a FAO indica quatro focos de oportunidade e atenção: resiliência dos sistemas alimentares locais e cadeias de abastecimento; governança dos sistemas alimentares; inovação com parcerias público-privadas; e economia circular como enfoque para combater desperdícios e perdas de alimentos.
COVID-19 & Obesidade.
A maior pesquisa on-line de alimentação e nutrição do Brasil, Nutrinet, realizada pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Nupens – USP), comparou o peso corporal de 14.259 pessoas e constatou que mais de um terço dos brasileiros teve mudança significativa de peso desde o início da pandemia, sendo a tendência ao ganho de peso maior entre os indivíduos de menor escolaridade.
A pesquisa internacional “Diet & Health Under Covid-19” (Dieta e saúde sob a pandemia de coronavírus), conduziu um estudo entre 30 países e concluiu que, dentre todas as populações analisadas, os brasileiros são os que mais recorrentemente afirmaram ter ganhado peso durante a pandemia.
O programa mundial de alimentos lançou um projeto de combate ao sobrepeso e obesidade infantil, o “Nutrindo o futuro”, que visa apoiar o fortalecimento das instituições públicas de saúde.
O que comemos muda o mundo.