"Esperamos que a gestão da COP30 se comprometa em trazer para mesa a sociobiodiversidade amazônica. Assim, dará o primeiro passo para apoiar a construção participativa de um modelo capaz de promover o bem viver para os amazônidas, aliado à preservação da floresta, e mitigar os impactos climáticos."

Comida de baixo carbono na COP30 é tema de experiência gastronômica no DF

Escrito por Comida do Amanhã

em 01/11/2024 |

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Instituto Regenera, Instituto Comida do Amanhã e Assobio defendem que alimentação agroecológica esteja no cardápio oficial da conferência em Belém

A alimentação que será servida durante a Conferência das Partes (COP30), em 2025, no Brasil, para as estimadas mais de 40 mil pessoas do mundo inteiro que estarão em Belém no período, é o tema do evento “Na Mesa da COP30”, que será realizado em 5 de novembro, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. No centro da mesa, durante uma experiência sensorial gastronômica, estará em debate o conceito sobre o tipo de produção de alimentos que o Brasil pretende oferecer neste que é, anualmente, o maior encontro global sobre clima.

A coalizão formada por Instituto Regenera, Instituto Comida do Amanhã e Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), organizações dedicadas à agenda de sistemas alimentares e clima, vai lançar oficialmente a Iniciativa para a Alimentação da COP30 durante o evento. O movimento entende que é fundamental dar protagonismo aos sistemas alimentares na agenda de enfrentamento à crise climática e oferecer produtos agroecológicos aos participantes da conferência. O Brasil está entre os 10 maiores emissores do mundo de gases de Efeito Estufa (GEE), e ⅔ das emissões totais decorrem do padrão hegemônico de produção de alimentos – diretamente pela produção agropecuária ou indiretamente devido ao desmatamento, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

Levar produtos agroecológicos, da sociobiodiversidade amazônica, da agricultura familiar e de baixo carbono aos pratos de quem participa das negociações para reduzir as emissões em todo o planeta, além de simbólico, tem o potencial de produzir transformações positivas e concretas na relação com a alimentação no Brasil e no mundo. Será um exemplo diplomático de que é possível alimentar uma quantidade grande de pessoas com alimentos agroecológicos, desde que haja articulação e intenção.

A Iniciativa para a Alimentação da COP30 vai oferecer neste evento para convidados um cardápio com uma mistura de texturas e sabores da diversidade amazônica, como açaí, tucupi, castanha, palmito pupunha, macaxeira, cumaru e babaçu. O menu está sob responsabilidade da Cooperativa Central do Cerrado.

“Esperamos que a gestão da COP30 se comprometa em trazer para mesa a sociobiodiversidade amazônica. Assim, dará o primeiro passo para apoiar a construção participativa de um modelo capaz de promover o bem viver para os amazônidas, aliado à preservação da floresta, e mitigar os impactos climáticos”, afirma Francine Xavier, cofundadora e diretora do Instituto Comida do Amanhã.

“Produtores agroecológicos e da sociobiodiversidade têm capacidade e interesse de produzir muito mais, mas para isso é necessária a ampliação dos mercados urbanos que hoje essa produção alcança”, avalia Maurício Alcântara, cofundador e diretor do Instituto Regenera. “O modelo de distribuição de alimentos que temos hoje no Brasil é resultado de décadas de investimentos e de políticas que não privilegiam a pequena produção. Com a COP30, temos a oportunidade de fazer diferente em Belém, e de estabelecer um legado que perdure para além da conferência”, complementa.

“Historicamente a população amazônica não é chamada para discutir, mas sofre as consequências das decisões acerca do modelo brasileiro de produção de alimentos. Nesse sentido, trabalhamos para que nossa aliança aproveite a COP30 para gerar espaço de protagonismo aos produtores da Amazônia, ajudando o Brasil a reconhecer a importância da bioeconomia como um vetor de mudanças na produção de alimentos no país e, consequentemente, no combate às mudanças climáticas”, afirma Paulo Reis, presidente da Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio).

Práticas agroecológicas contribuem para a solução para a crise climática

No debate climático, a produção convencional de alimentos é vista como um problema. No entanto, práticas agroecológicas (como a produção diversificada em sistemas agroflorestais, a valorização de saberes ancestrais de populações indígenas e tradicionais e a ausência de agrotóxicos) fazem com que a produção de alimentos passe a ser identificada como solução para a agenda climática. Essas práticas apontam para caminhos de adaptação às mudanças climáticas, propondo novas cadeias de produção, circulação e consumo de alimentos; para mitigação, uma vez que contribuem para a manutenção da floresta de pé; e para o reflorestamento de áreas degradadas, sem deixar de produzir.

Durante o evento, porta-vozes das organizações falarão sobre a iniciativa. Entre os convidados confirmados estão representantes do Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Secretaria da Presidência da República e Ministério Público do Pará. Também estarão presentes representantes de organismos e instituições nacionais e internacionais, como WWF, CONAQ, Ação da Cidadania, além de produtores da Região Amazônica e representantes da sociedade civil, em especial as que atuam no combate à fome e por justiça climática.

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