Onde tem comida, tem gente. Onde tem comida tem Bocas, […]
Escrito por Nathalia Figueiredo
em 27/09/2023 |
Onde tem comida, tem gente. Onde tem comida tem Bocas, bocas diferentes, bocas que comem, bocas que conversam, que partilham histórias, que trazem ideias valiosas. Este é um conteúdo do BoCA – Boas Conversas Alimentam, um projeto que o Instituto Comida do Amanhã conduz, com a parceria do NOZ da Nutrição, que convida você à escuta das diversas vozes que fazem nosso sistema alimentar se repensar, se transformar, se tornar mais resiliente, justo, biodiverso, todos os dias.
Trazemos até você vozes múltiplas para nos ajudarem a contar aquelas histórias que a gente não seria capaz de contar sozinha. Porque a mesma BoCA que traz o alimento para dentro de si, é a que compartilha histórias de si para o mundo. Porque comida e conversa, quando boas, costumam chegar junto. Pode puxar uma cadeira. Sente na mesa com a gente. E Saboreie. De BoCA cheia.
Hoje convidamos você a mergulhar, a colocar o ouvido dentro da água e escutar os mariscos, os peixes, e as histórias que eles movimentam em terra. Vamos até a Barra de Mamamguabe, e de lá trazemos uma mão cheia de reflexões sobre essa comida das águas. Neste episódio teremos luas, conchas, risadas, resistência e muito amor.
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Neste texto, apresentamos o contexto da discussão sobre Alimentos Provenientes das Águas (em inglês Blue Food) com base em duas entrevistas realizadas na Barra de Mamanguape na Paraíba em junho de 2023, com Marinalva: marisqueira, pescadora e tapioqueira, de 50 anos, nascida e criada em Barra de Mamanguape; e, Tatá, mulher lésbica, chef de cozinha do Restaurante Taperebá, pernambucana de Recife, 37 anos e vivendo em Barra de Mamanguape há dois anos.
Ylana Elias Rodrigues é a responsável pela curadoria das entrevistas aqui apresentadas, você vai conhecer um pouquinho mais da trajetória dela logo ali abaixo.
Para o Comida do Amanhã, já está mais do que na hora de produzir conteúdos sobre alimentação proveniente das águas, um debate que vem ganhando cada vez mais destaque internacional, e que no entanto ainda carece de um mergulho maior da nossa parte; é também uma oportunidade de ouvir outras vozes, outras tradições, origens e conhecimentos.
Então o que são estes alimentos provenientes das águas, ou na tradução literal os alimentos azuis? São aqueles alimentos obtidos (cultivados ou selvagens) em ambientes aquáticos – água doce ou marinhos – incluindo animais, plantas e algas. Trata-se de alimentos considerados importantes para a economia, enquanto meio de subsistência para diversas comunidades, relevantes para a segurança alimentar e nutricional dessas populações, além de apresentarem importância cultural e nutricional.
De acordo com artigo da Nature, existem quatro principais funções dos alimentos provenientes das águas: i) Fontes de nutrientes essenciais; ii) Alternativas saudáveis aos alimentos de origem animal terrestre; iii) Fontes de nutrientes com pegadas ambientais relativamente baixas; e iv) Fundamentos de culturas, dietas, economias e meios de subsistência. Além destas funções, um relatório completo e realizado por pesquisadores especialistas no tema, intitulado Blue Food Assessment, revela que os potenciais destes alimentos no combate à desnutrição, às doenças cardiovasculares e aos riscos climáticos ainda é subutilizado. Por outro lado, ressaltamos também que a atual situação da pesca industrial e desenfreada é responsável pela redução na disponibilidade de estoques pesqueiros, com consequências diretas nas condições de vida e alimentação das comunidades dependentes desses alimentos.
É a partir desta conjuntura que Ylana nos conta a seguir como foi sua jornada pela Barra de Mamanguape, onde ela conversou com mulheres que têm os alimentos provenientes das águas como base de suas vidas.
Olá, meu nome é Ylana!
Nutricionista, uma boa curiosa e fascinada com a diversidade de culturas no Brasil. Em outubro de 2021, entreguei meu apartamento em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para viver pelo Brasil, trabalhando online. Passei alguns meses em Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Contexto do território – Barra arrudiada d’água
Em junho desse ano, eu voltei à Barra especialmente para entrevistar a Tatá e a Marinalva para o BOCA. Barra de Mamanguape é uma comunidade de 300 habitantes no litoral da Paraíba arrudiada pelo canavial, o rio e o mar, onde eu fui acolhida por dois meses em meio às minhas andanças pelo nordeste.
Protegida pelas águas, na minha memória, a Barra é também feita de três ou quatro ruas de terra, com o sol brilhando forte, e as pessoas circulando em torno da vida rural, marisqueira e pesqueira.
Uma cena comum era ver três ou quatro pessoas em torno de uma mesa separando concha e carne do marisco com uma habilidade ancestral. Algumas pessoas faziam com apenas uma mão enquanto conversavam. A montanha em cima da mesa ia se desfazendo, se transformando em parte em cobertura para o chão de terra e a outra parte em comida.
Naquele final de semana, os 30 km das únicas estradas para chegar à comunidade se converteram em lama em função das chuvas diárias que haviam iniciado. Chovia quase o suficiente para encher a Lagoa de Praia, que só vira lagoa nessa época do ano.
Eu dei sorte, fui bem recebida pelo pôr do sol no rio. O barqueiro Joelso, sua esposa Navegantes e seu filho, me buscaram para atravessar essas águas que separam a Barra do território indígena Potiguara da Baía da Traição. Me senti em casa ao colocar o pé nesse chão que me transformou profundamente.
Tatá e a sardinha azul
Tatá conversou comigo de pé na cozinha enquanto adiantava a sardinha azul para abrir o Taperebá, restaurante tocado por ela e por Carla, que funciona nos dias de mais movimento.
[…] Coisa [maionese de guajiru] que é o acompanhamento desse peixinho aqui que a gente tá tirando uma espinha tal e que tipo, é a base da alimentação do povo de Barra, né? Esse peixe eu acho que na realidade, é um dos pratos que mais representa assim pra mim a Barra, sabe? Porque a sardinha azul eles comem o ano todo e eles, tipo, têm um processo de conservar, de vários tipos. Eles congelam, ou eles colocam pra secar, né? Eles cozinham e armazenam tipo sardinha enlatada. Enfim, várias coisas… salgam. […]
Aprender a tirar uma espinha de um peixe tão pequeno como a sardinha azul foi resultado do encontro de uma cozinheira de Recife com os saberes tradicionais da comunidade, que domina técnicas como o moqueamento, feito em estruturas chamadas moquéns, baseado em salga e defumação para conservação de peixes.
A mãe de Tatá teve restaurante e cozinhava na casa de outras pessoas. Já a sua avó era de uma comunidade ribeirinha em Itapissuma, no litoral norte de Pernambuco, onde a alimentação era baseada em peixes e ostras. Essas mulheres foram fonte de inspiração para que Tatá se desenvolvesse como cozinheira. A graduação em gastronomia veio depois. De acordo com dados do IBGE (PNAD contínua, 2019), aproximadamente 96% das mulheres se ocupam de atividades ligadas à cozinha (preparo, serviço e limpeza da cozinha), ao passo que apenas 62% dos homens cumprem com essas mesmas atividades. Por outro lado, quando cozinhar se torna lugar de destaque e de poder, dados da Chef’s Pencil nos contam que apenas 7% das cozinhas profissionais dos restaurantes mais famosos do país são chefiadas por mulheres. Tatá me conta porque decidiu se tornar chef de cozinha:
[…] Eu mesmo fiz [a graduação] porque precisava de um salário melhor, porque precisava ser reconhecida. A gente mulher na cozinha também, já não tem muita oportunidade, então a gente tem que estar toda hora se cobrindo de respaldo, como um curso superior, como o curso, né, ou alguma coisa que venha. Provar a nossa capacidade, né? De fazer qualquer coisa. […] A cozinha de casa é de Vovó, de mainha, mas quando a gente fala sobre uma cozinha tecnológica, com algumas outras coisas assim. Nesse perfil, um pouco mais de tipo TV e mídia, sempre o espaço é muito muito machista e muito masculino. […]
Nas memórias afetivas dela, do litoral norte de Pernambuco, vive um peixe muito parecido com a amada sardinha azul lá da Barra.
[…] a gente lá chama de manjubinha e tinha 1000 maneiras de preparar. Esse prato mesmo que eu tô preparando agora, ele é uma versão, na realidade, de tudo que eu já vi desde criança até chegar aqui. É você tipo, comer algo na infância, depois parar de comer e depois voltar a comer e, tipo, tomar aquele choque de “nossa, tem um pouco, né, da minha infância aqui”. […]
O Taperebá não é apenas um restaurante, é um projeto que acontece dentro e fora da cozinha e envolve uma série de atores do sistema alimentar local. Requer constante observação da biodiversidade e seus ciclos, através de andanças pelas restingas, pesquisando PANCs, e conversando com produtores, pescadores e marisqueiros. É ainda um espaço de orgulho ancestral, de passar a mensagem adiante – como afirma a Tatá.
Tive a oportunidade de acompanhar alguns deslocamentos da Tatá, que sai conversando com toda a gente na região em busca dos ingredientes para sua cozinha, desenhando um cardápio vivo que mais se parece com um livro de histórias da alimentação na Barra e que valoriza a biodiversidade local, saberes e afetos.
[…] eu acho que a gente tem muito mais a ganhar… Se a gente focasse nos nossos ancestrais, na nossa cozinha de base, sabe, principalmente para formar cozinheiros brasileiros. Sabe, não adianta ser brasileiro, tá aqui e tal. E tipo dominar 3, 4, 5 técnicas francesas, sabe? E não fazer uma boa moqueca. […]
[…] O cardápio é sazonal, né? Existe um fixo, mas a gente sempre vai trazendo essa consciência para os clientes que às vezes não vai ter, por exemplo, a sardinha azul, porque as águas estão turvas, elas precisam de sol. É preciso que as águas estejam limpas para [a sardinha] poder vir para cá. […]
O Siri também vem dos pescadores da Barra, e o Aratu, geralmente vem do outro lado do rio, que ostenta os manguezais mais lindos e diversos que eu já vi. Tem o aratu da pedra e o aratu do mangue. O da pedra costuma ser mais saboroso. As ostras geralmente vêm da Mari-inha das ostras, que tem uma fazenda delas, e que as produz com o mínimo de impacto.
De noite, voltamos para comer a sardinha azul com a maionese de guajirú e celebramos os encontros, como o de Tatá com Marinalva, que doou as primeiras frigideiras do Taperebá.
Marinalva e os mariscos
No outro dia, encontrei Marinalva, que aceitou falar comigo enquanto resolvia a goteira da sua recém reformada cozinha, onde funciona a tapiocaria. Entre os recheios mais famosos está o de camarão com queijo e o de marisco.
Quando nos conhecemos, eu só sabia do seu trabalho com as tapiocas. Levei algum tempo para descobrir que ela não só cata o marisco para preparar os recheios, como tem mais de 40 anos se entendendo como marisqueira. Aos seis, ela já catava com seus pais. E hoje, aos 50, a relação com os mariscos simboliza o que ela nomeia como tradição, amor e sustento.
[…] E assim, eu criei os meus quatro filhos sobrevivendo da pesca, né? Eu pescava de rede de arrasto, de sauneiro, tanheira, catava marisco […] As pessoas que não sabem: tanheira é uma armadilha que se pega tainha. Sauneiro é uma rede que pega saúna, tamatarana, sardinha, e rede de arrasto é uma armadilha também, uma rede que pega sardinha. Aliás, não só sardinha, todos tipos de peixe que tiver no meio onde ela passar, entrar dentro, já é pego […]
O universo da pesca e mariscagem tem uma riqueza de saberes tradicionais sobre os animais, seus hábitos, os ciclos da natureza, o movimento das marés, técnicas e tecnologias, uma infinidade de coisas. Numa dessas, Marinalva lembrou de contar sobre o Jereré (ou Jererê), uma tecnologia que só passou a ser desenvolvida depois de muita catação com os dedos.
[…] Tem gente que cata na mão, tem gente que cata no jereré. Eu mesma cato na mão, sempre catei na mão. […] Tem mulher que puxa né, eu mesmo, eu não, sou mais na mão […] porque bota aquela corda na cintura e começa a puxar aquela rede com aqueles… […] cheio de dedinho, só que é de ferro, né, entendeu? Aí você vai puxando aquilo ali, aí vem a Terra com marisco, aí você vai ter que balançar pra tirar aquela terra todinha pra ficar só o marisco […] É bem pesado, é dentro d’água fazendo isso […]
Para acertar no momento de lançar a mão dentro da areia e encontrar o marisco, Marinalva conta com a ajuda do céu. O ritmo de vida e trabalho dos pescadores e marisqueiros, como Marinalva, é totalmente baseado na lua, que determina as marés. O momento de catar marisco depende disso, quando a maré seca expõe os bancos de areia, é o momento de ir pro rio. Tem marés que secam na madrugada, tem outras que secam no início da manhã, lá pelas 7-8h. Marinalva faz um café da manhã reforçado e parte para as muitas horas dentro do rio na companhia dos mariscos. Até aos domingos, quando vai passear na praia, o seu lazer é… Adivinhe?
[…] Eu fui, é, caminhar na praia, aí eu vi um monte de marisco, aí o velho estava indo tirar água da canoa e ele tava com um balde, eu falei assim “Ô velho me dá esse balde aí”, daí eu fiquei catando marisco sozinha, né. […] Aí, lá vem as menina, né? A Verônica com as amigas dela e com uma mulher, viu eu catando marisco e a mulher endoidou, e a alegria? Parecia um menino ganhando bombom. Aí ela entrou na água comigo e começou a catar marisco e daí ela pegou amizade comigo, veio ontem aqui se despedir e foi embora hoje. […]
Todos sabem que ela vai sozinha no seu barco, e fica horas no processo. São nesses momentos que ela vivencia solitude e conexão com a natureza. Volta e meia tem alguém (como eu) que fica pedindo para acompanhá-la. Só para sentir um pedacinho desse amor que ela sente.
[…] Assim, às vezes, quando eu vou, eu vou só. Eu fico só, assim. Falando sozinha assim com os mariscos, né? Com a natureza mesmo, né? […] Ai meu Deus, mostre um canto que tenha bastante marisco pra eu encher meu balde pra ir-me embora [risos]. É, como eu não tô encontrando assim, bastante num canto aí eu fico pedindo a Deus, ai, Deus, me amostra um canto que tenha bastante [marisco] pra eu encher meu balde […]
Mesmo com mais gente retirando os mariscos, ela vê mais abundância do que antigamente, o que me faz pensar se isso fala das suas habilidades ou da disponibilidade de mariscos. Marinalva é conhecida na região por pegar os maiores mariscos, e conta que o segredo é descartar os pequenos, que irá encontrar novamente quando estiverem grandes, e pegar somente os maiores que encontrar. Respeitando o tempo da natureza, ela chega a pegar de 2-3 kg para consumo próprio e para a tapiocaria.
Sem dúvida, existe uma rede de solidariedade que nutre a comunidade. E as mulheres assumem o protagonismo dessas redes. Na Paraíba tem essa expressão “mulher-macho”, que geralmente é aplicada de forma machista e patriarcal à força que elas carregam de fato.
[…] Porque a gente que cata marisco, né? A gente nasceu e se criou, é, aqui, a gente cresceu catando marisco, pescando. Tem mulher que fica com dor no pé da barriga, com cólica. Eu mesmo perdi meu útero, meu ovário, minhas trompas, por que? catando marisco em água suja, né? Aquilo ali foi o que? Criando um, é, mioma, policistos… Aí eu tive que fazer essa cirurgia de emergência, fiz outra também para tirar a vesícula, viu? […]
Esta fala me leva a pensar que são diversas as crenças, possibilidades e caminhos a serem trilhados a partir da história de vida destas mulheres. E, apesar das dificuldades inerentes ao trabalho e tudo que enfrentou ao longo desses 40 anos como marisqueira, Marinalva tem muito carinho e respeito pelos mariscos.
[…] Eles se alimentam do, assim, é, assim, a natureza, assim, mesmo assim, ele se alimenta do lodinho, da lama, né? Essas coisas… Ele não é sujo porque ele se alimenta só das coisas do mar […] É, é. E quem disser, assim: Ah, o marisco é isso aqui, não. O marisco é muito importante, né? Porque a maioria das pessoas aqui sobrevive do marisco, né? Não é porque, assim, eu arrumei um trabalhinho, agora eu vou dizer assim “ah, não, não sobrevivo do marisco, não, não dependo do marisco, sim” […]
Fechamos essa conversa com tapioca de camarão, mas esse bichinho é uma boa conversa para nos alimentar outra hora. Até logo.
Conhecer, respeitar e seguir ouvindo as diferentes formas de conhecimento
A história que Ylana nos conta, a partir da vida de Tatá e Marinalva, reflete o que o debate internacional sobre alimentos provenientes das águas vem apontando e discutindo. Não é nosso intuito aqui aprofundar cada um dos aspectos da história de vida destas mulheres, mas gostaríamos de destacar alguns deles.
O primeiro é a forte presença das questões de gênero na fala de ambas as mulheres e como o trabalho do cuidado anda lado a lado com o pensar, coletar e preparar a comida. É também nesse âmbito que as dificuldades por serem mulheres se destacam, tanto no que concerne à criação filhos e à violência doméstica, como no pensar os negócios, estudar e se aprofundar em assuntos de interesse. De forma completamente relacionada estão as relações/tradições familiares e a ancestralidade na alimentação, com relevância para a presença da comida e da cozinha na constituição da vida das famílias. Não é também possível deixar de comentar sobre a valorização da alimentação e do respeito à cultura brasileira.
Outros temas relevantes são o respeito à sazonalidade, ao alimento local e à biodiversidade aquática. Todos estes temas são impactados pela qualidade e poluição das águas, afetando diretamente a disponibilidade e qualidade de alimentos provenientes das águas. Além da já citada, pesca industrial e desenfreada e suas consequências nos estoques pesqueiros e nas condições de vida e alimentação de distintas comunidades.
Assim, encerramos este texto, com a certeza de que há muito para debater e aprofundar sobre os alimentos provenientes das águas, e da importância de olhar para estes alimentos como parte das estratégias para a transformação dos sistemas alimentares, estimulando, como chamada pela FAO, a Transformação Azul, reconhecendo e valorizando as histórias de vida absolutamente entrelaçadas com as águas e a vida que nelas acontece.