No dia 21.10.2020 foi divulgada a Pesquisa Nacional de Saúde […]

Aumento da obesidade no Brasil e o consumo de ultraprocessados.

Escrito por Nathalia Figueiredo

em 04/11/2020 |

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No dia 21.10.2020 foi divulgada a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 do IBGE, que trouxe dados chocantes sobre o aumento do sobrepeso e obesidade no país.

A pesquisa comparou os dados de 2019 com as edições de 2002-2003 e 2008-2009 da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-IBGE) e com a edição anterior (2013) da Pesquisa Nacional de Saúde.

Obesidade, sobrepeso, consumo de produtos alimentícios ultraprocessados e impactos da pandemia estão absolutamente interligados, trazemos aqui alguns dados para que possamos entender melhor o cenário atual.

Metodologia

Foi realizada avaliação antropométrica de adultos e adolescentes considerando peso e altura, de acordo com os padrões da OMS.

Por este parâmetro, em adultos de 18 anos ou mais, o déficit de peso é representado por IMC abaixo de 18,5 Kg/m2, sobrepeso por IMC igual ou acima de 25kg/m² e obesidade 30kg/m² – considerando que a obesidade é um subgrupo do sobrepeso.

Para jovens entre 15 e 17 anos, é calculado um Escore (Escore Z) definido pelo peso em Kg dividido pela altura elevada ao quadrado. Por este parâmetro, são considerados com déficit de peso os que apresentam escore Z< -2, excesso de peso os que apresentam escore Z> 1 e obesidade escore Z> 2.

Excesso de peso

Os dados da PNS apontam que seis em cada dez brasileiros estão com excesso de peso, o que significa 60,3% da população (96 milhões de pessoas). Os números sobem conforme avança a idade e decaem a partir dos 60 anos para ambos os sexos. Em todas as faixas etárias, com exceção da que abrange dos 25 aos 39 anos, o sexo feminino representa maior proporção de pessoas com IMC acima de 25kg/m² (62,2% da população total, contra 57,5% no sexo masculino). No período de 17 anos, o número total de adultos com idade igual ou superior a 20 anos, considerados com excesso de peso, passou de menos da metade da população (43,3%) para quase dois terços (61,7%)

Em relação aos jovens entre 15 e 17 anos (1,8 milhões de pessoas), um a cada cinco apresenta excesso de peso, o que significa 19,4% dos adolescentes – nessa faixa etária a taxa de excesso de peso é também mais elevada para mulheres (22,9%) do que homens (16%).

Obesidade

Em 2019, a obesidade atingiu no total mais de 21,8% dos homens com idade igual ou superior a 18 anos e 29,5% das mulheres da mesma faixa etária, o que significa que três a cada dez mulheres adultas estão obesas.

Entre a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002-2003 e a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, a proporção de obesos entre a população de idade igual ou superior a 20 anos, saltou de 12,2% para 26,8% – em 17 anos o número de adultos obesos no Brasil mais do que dobrou.

A prevalência de excesso de peso observada em mulheres adultas (com 20 anos de idade ou mais) no sexo feminino (43,2%), que estava abaixo da prevalência observada no sexo masculino dentro da mesma faixa etária (43,3%) em 2003, mudou de posição em 2013 chegando a 63,3% e ficando acima da masculina (60%) na última pesquisa. Já a obesidade em mulheres nesta faixa etária subiu de 14,5% para 30,2%, enquanto no sexo masculino foi de 9,6% para 22,8% nos últimos 17 anos.

A PNS não abrange a obesidade infantil, monitorada pelo Instituto Desiderata através do relatório “Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes” e da campanha em parceria com o Instituto Alana “Obesidade em crianças e adolescentes: uma responsabilidade compartilhada.” Segundo os relatórios, o Brasil possui 30,3% de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos com sobrepeso. De 2000 a 2016, a proporção de crianças e adolescentes (considerando uma faixa de de 5 a 19 anos) com sobrepeso aumentou: a prevalência de 1 em cada 10 foi para aproximadamente 1 em cada 5.

Consumo de ultraprocessados

O relatório SOFI 2020 demonstra que cada vez mais, dietas saudáveis (de acordo com os padrões da FAO*) são inacessíveis, sendo esta uma das razões pelas quais cada vez mais sobe o consumo de ultraprocessados e cai o de alimentos mais naturais e saudáveis.

Estudos do Nupens USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP) apontam relações consistentes entre o consumo rotineiro de ultraprocessados e o aumento de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis.

Segundo Carlos Monteiro, coordenador científico do Nupens USP, estes produtos alimenticios são ricos em gordura e açúcar, e feitos para não trazer saciedade ao indivíduo, induzindo o consumo em maiores quantidades.

Uma pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) em parceria com o Datafolha, aponta que o consumo de ultraprocessados dobrou durante a pandemia na faixa etária de 45 a 55 anos, justamente a que apresentou, até 2019, maiores taxas de sobrepeso e obesidade.

De acordo com Carlos Monteiro, as taxas caem a partir dos 60 anos pois os números são afetados pela morte destes indivíduos, ocasionada pela obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis associadas a esta condição clínica (hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras).

Em relação à população infantil, a publicação do Instituto Desiderata em parceria com o Instituto Alana aponta que 31% das crianças entre 6 e 23 meses já consumiram alimentos ultraprocessados como refrigerantes, sucos industrializados e biscoitos.

Pandemia

A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE refere-se a dados que vão até o ano de 2019, e por isso, não contam ainda com os efeitos da pandemia de coronavírus.

Nós do Comida do Amanhã, monitoramos os efeitos da pandemia no aumento das taxas de obesidade todo mês, através da série “Sistemas alimentares e COVID-19”, que publicamos aqui no site e enviamos mensalmente aos subscritores da nossa Newsletter, e onde poderá ver como no cenário pandêmico se agrava o quadro de insegurança alimentar que pode conduzir a números mais graves no futuro, tanto de obesidade quanto de subnutrição que, sabemos hoje, andam de mãos dadas.

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