Em um Brasil marcado pela crescente insegurança alimentar, que afeta [...]
Escrito por Andressa Algave
em 07/04/2025 |
Em um Brasil marcado pela crescente insegurança alimentar, que afeta milhões de pessoas, a Estratégia Alimenta Cidades se destaca como um movimento transformador, expandindo suas ações por todo o país. A iniciativa visa promover políticas públicas que garantam o acesso a alimentos saudáveis e acessíveis, com foco nas populações mais vulneráveis. Desde novembro de 2024, a Estratégia tem realizado oficinas presenciais nos municípios que aderiram à iniciativa. Esses encontros proporcionam um processo contínuo de capacitação, articulação, troca de experiências e construção coletiva, fortalecendo a integração entre os participantes e ampliando o impacto das ações em todo o Brasil.
Em Jaboatão dos Guararapes (PE), a oficina presencial foi realizada nos dias 17 e 18 de fevereiro. A cidade possui 13 cozinhas solidárias, incluindo a do Espaço João de Deus, que abriga uma horta comunitária gerida pela organização Manga Rosa, referência em agroecologia urbana. Além disso, as hortas escolares vêm ganhando força, com seis unidades ativas apoiadas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Em Londrina (PR), também nos mesmos dias, a oficina destacou o papel da agricultura urbana no fortalecimento da segurança alimentar. A cidade conta com 33 hortas comunitárias, viabilizadas pela Lei 12.620/2017, que incentiva o cultivo de alimentos sem agrotóxicos em terrenos ociosos. O Projeto Sacolas Camponesas, conduzido pela Associação das Mulheres Camponesas do Assentamento Eli Vive 1, é um exemplo de como a agroecologia pode beneficiar a economia local e a alimentação saudável.
Já entre os dias 20 e 21 de fevereiro, Petrolina (PE), Maringá (PR) e Palmas (TO) sediaram simultaneamente as oficinas da Estratégia Alimenta Cidades. A oficina em Petrolina teve como foco o equilíbrio entre a produção agrícola e a sustentabilidade. A cidade, reconhecida pela sua produção de frutas, tem adotado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) como uma estratégia eficaz para levar alimentos frescos às mesas de famílias vulnerabilizadas. Além disso, Petrolina tem se destacado pela integração de pequenos produtores ao sistema de alimentação pública, beneficiando mais de 70 agricultores por meio do programa.
Maringá, com suas 40 hortas comunitárias e uma crescente rede de restaurantes populares, é um exemplo de integração entre produção agroecológica e serviços de alimentação. Em Palmas, a oficina debateu a importância da agricultura familiar e das hortas urbanas, com destaque para o projeto Descasque Mais e Desembale Menos, que incentiva o consumo de alimentos in natura nas escolas municipais.
Porto Alegre (RS) sediou a oficina nos dias 24 e 25 de fevereiro na Câmara Municipal. A cidade tem adotado uma estratégia de longo prazo para se tornar livre de agrotóxicos até 2030, com foco na implementação de agroflorestas comunitárias e no reaproveitamento de resíduos orgânicos para a produção de adubo. A expansão das hortas comunitárias, que devem passar de 23 para 68 unidades até o final do ano, tem sido uma das principais ações, especialmente em resposta aos desafios da pandemia de Covid-19. Nesse contexto, iniciativas como a Horta Comunitária Periferia Feminista do Morro da Cruz, criada em 2021, têm se tornado ainda mais essenciais, promovendo não apenas a produção de alimentos, mas também a autonomia, acolhimento e fortalecimento comunitário, beneficiando cerca de 50 famílias.
Além disso, Porto Alegre foi a primeira cidade a adotar um decreto que concede espaços públicos para iniciativas de segurança alimentar, desde que sejam ofertados gratuitamente água e alimentos in natura produzidos localmente.
Em Caxias do Sul (RS), o evento, realizado nos dias 27 e 28 de fevereiro no Anfiteatro da Câmara de Vereadores, destacou o programa Ponto de Safra da Praça Dante Alighieri, que facilita o acesso a alimentos frescos da agricultura familiar. O Prato Solidário também foi destaque, resgatando alimentos excedentes da indústria para redistribuição a instituições sociais, combatendo o desperdício e garantindo refeições nutritivas.
Belo Horizonte (MG), com seus mais de 2,4 milhões de refeições anuais distribuídas em restaurantes populares, também se destacou nas oficinas. A cidade conta com um Banco de Alimentos que distribui alimentos a 43 entidades e promove educação alimentar e profissionalização por meio do Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (CRESAN) Mercado da Lagoinha. O encontro presencial na capital mineira foi realizado nos últimos dias de fevereiro.
Em março, as oficinas seguiram para São José dos Pinhais (PR), Vitória (ES), Manaus (AM), São José dos Campos (SP), Vitória (ES) e Boa Vista (RR), seis cidades com iniciativas inovadoras para fortalecer a segurança alimentar. Cada uma, à sua maneira, tem transformado desafios em oportunidades, mostrando que o combate à fome e a promoção da alimentação saudável exigem estratégias criativas e integradas.
Nesse sentido, Barbara Santos, Analista de Políticas Públicas do Instituto Comida do Amanhã, destaca que a Estratégia Alimenta Cidades tem sido essencial para fortalecer as ações já implementadas e estimular novas iniciativas adaptadas a cada realidade. “As oficinas presenciais promovem o diálogo entre governo e sociedade civil, incentivam a troca de experiências e fortalecem uma rede de aprendizado coletivo, ampliando o impacto das políticas de segurança alimentar nas cidades. Esse processo não só dá destaque às iniciativas locais, mas também fortalece a criação de uma rede de aprendizado mútuo, promovendo a troca de experiências e diálogos coletivos para enfrentar os desafios da segurança alimentar nas diversas realidades urbanas”, afirma Bárbara.
Nos dias 10 e 11 de março, São José dos Pinhais (PR) reuniu especialistas e gestores no Plenarinho da Câmara dos Vereadores para discutir políticas de abastecimento e alimentação escolar. O município atingiu 100% de aquisição de alimentos da agricultura familiar para o PNAE, garantindo a oferta de produtos frescos para os estudantes. O programa Sacolão Verde, que permite a troca de recicláveis por alimentos, também foi elogiado como uma iniciativa inovadora de sustentabilidade e segurança alimentar.
Já em Vitória (ES), nos dias 13 e 14 de março no Instituto João XXIII o Banco de Alimentos Hebert de Souza foi apontado como uma das principais iniciativas locais, distribuindo mensalmente cerca de 10 toneladas de alimentos para 800 famílias. O programa Vix + Cidadania, que beneficia 3.500 famílias com cartões para aquisição de alimentos e produtos essenciais, também foi destaque.
Em Manaus (AM), a oficina foi realizada também nos mesmos dias que em Vitória, no Auditório Dr. Thomás, no Parque Municipal do Idoso ressaltou os desafios e avanços da capital amazonense. O programa Prato do Povo, parte da iniciativa Manaus Sem Fome, expandiu para 12 unidades, garantindo cerca de 13 mil refeições diárias para a população em situação de vulnerabilidade. Outro projeto inovador é o Farmácia Viva na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Parque das Tribos, bairro multiétnico que abriga mais de 700 famílias de 35 povos indígenas, que une alimentação e saúde ao promover o uso de plantas medicinais cultivadas em hortas comunitárias.
São José dos Campos (SP) realizou a oficina no Centro de Formação do Educador, destacando a união entre educação, sustentabilidade, meio ambiente e saúde. A cidade é reconhecida nacionalmente por seu Programa Compostar e Plantar e busca expandir suas ações para garantir o acesso a alimentos saudáveis, especialmente nas áreas mais vulneráveis. Além disso, a cidade conta com o Programa Bom Prato, que oferece refeições balanceadas a preços acessíveis, e sua versão móvel, que leva as refeições aos bairros periféricos.
Boa Vista (RR), capital do extremo norte do país, sediou a oficina no Teatro Municipal, focando na agricultura familiar e sua contribuição para a alimentação escolar. A cidade se destacou por destinar 100% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) à compra de produtos da agricultura familiar, beneficiando diretamente as merendas escolares de cerca de 1.600 famílias. A cidade também implementou projetos sustentáveis, como o CETRO-BV, que processa resíduos orgânicos e gera adubo para as comunidades locais.
Por fim, Curitiba (PR) realizou a oficina no IPPUC, destacando seu compromisso em ampliar o acesso a alimentos saudáveis e acessíveis. Durante o evento, o estudo “Os Caminhos da Comida” foi apresentado, abordando a integração entre políticas urbanas e sistemas alimentares. A cidade também destacou a Fazenda Urbana, que utiliza espaços ociosos para produção de alimentos sem agrotóxicos, além de iniciativas como o Programa Mesa Solidária e o Armazém da Família.
Próximos Passos
Nas próximas semanas, a Estratégia Alimenta Cidades estará em diversas cidades do Brasil, promovendo as oficinas presencias e ações voltadas para a segurança alimentar. Entre os próximos destinos, estão Ponta Grossa (PR), Osasco (SP), São Luís (MA), Santos (SP), Feira de Santana (BA), Campo Grande (MS), Joinville (SC), Aracaju (SE) e Santarém (PA). Em cada uma dessas localidades, a iniciativa buscará ampliar o alcance das práticas e soluções para um sistema alimentar mais justo e sustentável, fortalecendo a participação das comunidades locais e a integração com políticas públicas eficientes.
O papel do Instituto Comida do Amanhã
O Instituto Comida do Amanhã, como um dos parceiros implementadores da Estratégia, tem desempenhado um papel central nesse processo. A organização contribui com análises técnicas, promove debates e apoia a formulação de diretrizes para a segurança alimentar nos municípios participantes. Sua atuação reforça a importância de um olhar sistêmico sobre a alimentação, considerando não apenas a oferta de alimentos, mas também questões sociais, ambientais e econômicas que impactam o acesso à comida de qualidade.
Até o momento, as oficinas presenciais consolidaram diagnósticos em onze cidades brasileiras, mas a expectativa é ampliar ainda mais esse alcance em 2025. Além disso, as 60 cidades participantes da Estratégia seguem recebendo suporte técnico por meio de reuniões remotas, garantindo o acompanhamento contínuo das ações.
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